Ministério da Saúde publica novas regras para cirurgia bariátrica no SUS
Normas incluem redução da idade mínima de pacientes de 18 para 16 anos.
Idade máxima foi retirada, e nova técnica e plásticas foram acrescentadas.
As novas regras para cirurgia bariátrica no Brasil, que incluem a redução da idade mínima dos pacientes de 18 para 16 anos, começam a valer a partir desta quarta-feira (20) em todo o país. A decisão começou com uma consulta pública, aberta em setembro do ano passado, e agora foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).
A portaria também retira a idade máxima para a operação, que antes era de 65 anos, e reajusta em 20% o valor médio repassado pelo SUS para cobrir honorários médicos e serviços hospitalares em cada procedimento.
A medida garante, ainda, a realização pela rede pública de exames e consultas no pré e no pós-operatórios, e autoriza uma nova técnica cirúrgica – a gastrectomia vertical em manga (sleeve), que remove 70% a 85% do estômago –, que se soma à gastrectomia com ou sem desvio duodenal, à gastroplastia vertical com banda e à gastroplastia com derivação intestinal. Também serão cobertas cirurgias plásticas reconstrutivas para corrigir a flacidez da pele e das mamas decorrente do rápido e grande emagrecimento.
Além disso, o texto publicado no DOU aborda questões como a estrutura hospitalar necessária, como materiais e equipamentos, para atender os pacientes obesos. Cada local precisa ter leitos e salas de cirurgia apropriados e capacidade para cuidar de eventuais complicações no pós-operatório.
Os hospitais também devem contar com uma equipe médica mínima, que inclua cardiologista, anestesiologista, enfermeiros, clínico geral, pneumologista, endocrinologista, angiologista/cirurgião vascular, cirurgião plástico, nutricionista, psiquiatra/psicólogo, assistente social e fisioterapeuta.
Segundo disse o ministro Alexandre Padilha durante coletiva em Brasília na terça-feira (19), o governo tem feito um "enorme esforço" para reduzir as filas de espera por cirurgia bariátrica nos hospitais do país. Mas ele também ponderou que é obrigação do Estado criar condições para que a população não precise desse recurso.
"É importante que a gente aja antes de a pessoa chegar à obesidade mórbida. O foco dessa política, por um lado, é facilitar e ampliar o número de hospitais que façam cirurgia bariátrica. Para isso, estamos pagando um valor maior pela operação e pelos exames. Mas é muito importante evitar que o indivíduo chegue a um estágio em que precise de bariátrica. Isso pode significar 60 vezes mais investimento por complicações de saúde desse paciente", afirmou.
O Ministério da Saúde considera "normal" uma pessoa cujo Índice de Massa Corporal (IMC) seja menor ou igual a 25. Entre 25 e 29, o indivíduo apresenta sobrepeso e, entre 30 e 40, configura-se obesidade.
Dados do país
Só em 2011, o governo gastou R$ 488 milhões em 2011 com o tratamento de 26 doenças associadas à obesidade, como câncer, diabetes e problemas cardiovasculares. Em 2009, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) mostrou que 21,7% da população entre 10 e 19 anos apresenta excesso de peso. Em 1970, esse percentual era de 3,7%. Além disso, 14,8% dos brasileiros estão obesos, contra 20,5% dos argentinos, 25,1% dos chilenos e 27,6% dos americanos.
As cinco capitais brasileiras com o maior número de obesos, segundo o ministério, são: Macapá (21,4%), Porto Alegre (19,6%), Natal (18,5%), Fortaleza (18,4%) e Campo Grande (18,1%).
Em 2012, mais de 70 mil operações bariátricas foram realizadas no país pelo SUS e pela rede particular, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Em 2003, foram 16 mil procedimentos, ou seja, nesse período houve um aumento de 4,5 vezes no número total.
Ainda de acordo com a SBCBM, 75% das cirurgias são feitas por videolaparoscopia, técnica menos invasiva que introduz câmeras no abdômen do paciente para reduzir seu estômago.
Operações em crianças e adolescentes
O presidente da SBCBM, Almino Cardoso Ramos, diz que não vê nenhum problema na redução da faixa etária para a cirurgia bariátrica, mas deve existir bom senso.
"Que tipo de tratamento você pode oferecer pra um adolescente com 180 kg que tem hipertensão, diabetes, problemas ósseos e ortopédicos?", questiona.
Segundo Almino, a questão não é o peso nem a idade sozinhos, mas uma associação entre vários problemas, as chamadas comorbidades, como colesterol, apneia do sono, câncer e as demais condições citadas acima.
"Esses casos abaixo dos 18 anos devem ser analisados com muito cuidado, são especiais e precisam ser vistos pela equipe multidisciplinar. Há crianças que desde os 8 anos já são obesas e fazem acompanhamento, mas o peso só aumenta. Em algumas situações, é feita indicação cirúrgica já com 14, 15 anos. São pacientes que já fizeram toda a investigação e afastaram causas endocrinológicas durante anos. A cirurgia é o ultimo recurso, após um tratamento prévio", aponta.
Ramos destaca, porém, que o maior problema em operar uma criança ou adolescente é que a cirurgia não crie efeitos adversos que possam prejudicar a vida da pessoa. De acordo com o médico, o número de pacientes operados entre 16 e 18 anos ainda não é grande, razão pela qual essa faixa etária deverá ser bem avaliada, para saber o impacto na curva de crescimento e na obtenção de nutrientes (como ferro, cálcio, acido fólico e vitamina D), entre outras possíveis consequências.
O presidente da SBCBM acredita que o Brasil está seguindo uma tendência mundial de obesidade e cirurgias precoces, vista em países como EUA e México. Na opinião dele, a recuperação é melhor quanto mais jovem for o paciente, e o risco de morte é baixo: um caso em 500 em todo o mundo.
"Estamos tratando uma ponta, mas o governo e a sociedade precisam prevenir a obesidade entre os adolescentes. Essa é uma repercussão do que está acontecendo nos adultos, em decorrência de má alimentação e falta de atividade física. Nos EUA, 65% das pessoas têm sobrepeso, aqui já são 50%. O que estamos esperando?", pergunta.
Para Ramos, é preciso implantar programas preventivos em escolas, lojas, fábricas, shoppings e outros estabelecimentos.